quarta-feira, 15 de maio de 2024

Hora Estranha



Hora Estranha


A hora estranha
O tempo tem olhos
Mas eu leio todos os sinais
Tenho desapegado de tudo que me detia, ou que não tinha pra onde ir
O passado ficou como um filme mal feito de que não faço mais parte
Meu cinema é de um realismo assustador
Tenho virado o manche na latitude precisa
Talvez por isso estranha
A felicidade de não se reconhecer mais

 

Medidas extremas tomadas com calma e profunda lucidez
E lá vai o motociclista
Mergulho intenso e disciplinado
Derrotas são parte do jogo
Vitórias também
A vida como ela é
E eu já não sou quem fui
Troquei de nome, de roupa, cabelo, senha, RG
E o mais importante: digitais
Já não toco o piano com os mesmos dedos
Ainda sou construtor de castelos
Mas aprendi a soprá-los
Toda decisão é um ato de solidão
Não são os outros, as circunstâncias
As derrotas, vitórias, problemas
Não é um jogo de azar
É sempre você e o momento
Esse que quando você pensa
Por um segundo é futuro
Mais segundo é presente
Mais um é passado
A vida são três segundos de dízimas periódicas
Compostas a cada passo
Eis que aceitei tanto seu jogo
Que passei a amá-lo só por si
Sem depender dos resultados
A plateia do teatro que preciso está dentro de mim, pagou caro por isso
Quebrei a banca dos desesperados
Nada espero de mim além de uma boa e corajosa atitude
Estranha porta essa em que o tempo não importa mais
E me basta portar-me bem
E quando nem de felicidade precisava mais
A libélula translúcida dela pousou nos meus olhos
Hora estranha essa de três segundos

 

Teju Franco 15/05/2024


 

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Deixa o Barco






Deixa o barco

Sei lá

“É a funcionária e o bailarino”

O horário não combina

Quando ela tchum na cama, eu empino (rs brincadeira coma música do Chico)

Mas é um jeito de falar entre a senhora e a menina

Que me fascina

E essa calma irritante, desconcertante

De escutar, pensar, se colocar

Seus passeios pela biblioteca encantada

Sua escrita refinada de vida

Há que se entender a nobreza

Na qualidade positiva de caráter espiritual, moral, intelectual

Duas vidas absolutamente diferentes que se observam pacientes

Mas será possível?

Minha alma que sempre amou o impossível se excita

Minha idade de boêmio poeta hesita

Mas a sabedoria do que é bom não se limita, ninguém corajoso limita

Vai a prosa que conduz ao novo dia

Faça-se como o velho marinheiro observando a maresia

Deixa o barco

Deixa o barco

Seja o que for, ruim não será...

O que pode haver melhor que isso?

- Amor?

Mas esse, só o próprio saberá

Não adianta, nem eu, nem você, nem ninguém pensar

O amor não pergunta a que veio, a quem veio

Muito menos a gente que com qualquer resquício de certeza se rende.

Deixa o barco

O mar é sábio

Amar é confundir o mar



Teju Franco 01/02/2024



segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Maturidade



Maturidade


Ela fala
Eu falo
Há um tempo entre hiatos
Uma sabedoria
A vida não nasceu ontem
A vez não vai morrer amanhã

Não é preciso matar amanhã o maluco que morreu ontem
Há uma consciência do fluxo da vida
Já se sabe que as coisas são ou não são por mistérios incompreensíveis
O que tem de ser...será
O que não tem ...

Quando muito, patinar sem sair do lugar

Não temos todo o tempo do mundo
Mas não temos pressa nessa conversa
E há conversa abeça
Como se fôssemos garotos há décadas atrás
em uma tarde à toa, depois da sessão da tarde
A tagarelar num telefone de disquinho
Sobre o novo disco da Rita Lee
Sobre a festa de sábado à noite
Sobre àquela noite em Paraty

Saber o outro, com tanta vida
Sem pressa, é uma sabedoria
Qual o nome disso?
Os nomes já não são tão importantes nessa fase da vida
Temos pouco tempo
Mas vivemos como se tivéssemos todo tempo do mundo
Não somos tão jovens
Depois de ver tanta coisa, tantas vezes

Mas... por que não?
Quando a vez é, aparentemente, preciosa vez
O amor na maturidade é uma arte rebuscada
Um vinho raro
Há que se degustar sem pressa

Ninguém quer se enganar
Só se quer amar mesmo

Teju 30/01/2024


domingo, 28 de janeiro de 2024

O Outro





O outro

 

O mistério do outro

Ei! De onde você vem?

Eu vim de lá, e você?

Eu sei lá de onde vim, já andei tanto

Ah! Eu também...andei por aí...

Qual seu signo, por onde anda a sua Lua?

Agora? Perto da sua

Me conta, me conta mais...

Conto, conto tudo, o que sei e o que não sei

Não gosto de segredos, gosto de mistérios

Eu também, meu livro eu esfrego na cara dos outros

Não admito dúvidas

Eu quero ser o outro

Eu também...

Você é, estou morrendo de medo

Eu tenho medo de altura

Eu tenho medo de elevador

Jura?

Que medo bobo!

Todos medos são bobos

Não o seu

Nem o meu

É Tudo tão incerto no universo

Eu sei, por isso faço versos e versos

Você é poeta?

Não sei muito bem o que escrevo

Escreve pra mim?

Escrevo


A noite virou seus astros

O zodíaco ficou louco

Tanta coisa, tanta dor passada, tanto tanta

Coisa que não deu certo

Forçação de barra

Vamos tomar um chope na barra?

Vamos, mas tô meio perdida

Não acho o meu lápis

O que será do meu olho?

Tô procurando a chave

Se eu errar é o corretor

Onde está Netuno?

Marte, Plutão?

Sei lá, vi uns anéis passando aqui pela janela

Quer pôr no meu dedo?

Quero

O tempo dobrou o espaço, ou não

Quem dobrou quem

Dobrei a esquina da rua Canning

Ela está no Jardim de Alah

Meu coração bate Mangueira

Procuro o horóscopo no Smartphone

Os astrólogos enlouqueceram

O que aconteceu?

É o fim do mundo?

- Não, são duas pessoas se conhecendo

Às 18h no Amarelinho?

- Combinado

Vou de vermelho

Eu vou sozinho

Remexer as gavetas, achar a roupa

Espelho, espelho, espelho

Não me vejo

Só vejo o mistério do outro

Um sorriso com um medo delicioso

Não sou eu, é outro

É o fim da solidão

- Qual seu nome?

- Outro

 

 

Teju Franco 28/01/2024







 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Exploda!



Exploda!

 

Exploda, meu amigo

Explodir faz bem à saúde

Já mandou alguém a PQP hoje?

Experimente

Vai melhorar sua gastrite

Quem não explode, tem nefrite

Minha tia Geralda me falou

O doutor Cloroquino quer te matar

Pergunte aos médicos da alma

Engolir sapo calado dá sapinho na boca

Põe a síndrome do pânico no lugar da calma

Te faz um maníaco depressivo, masoquista


Confunda sua bipolaridade, multiplique-a ahaha

Vista aquela roupa que só você gosta

Sinalize um dedo em riste pra toda essa bosta

Os órgãos competes advertem – esvazie seu saco

Saco cheio é o laboratório dos neuróticos

Mande seu marido folgado tomar no fiofó

Sua bronquite vai agradecer

Viver entalado sem por pra fora dá catapora

O Ariovaldo da farmácia me falou

 

Exploda, minha amiga

Ligar o foda-se de vez em quando é libertador

Pare de pensar o que os outros esperam de você

Bota pra fudê!

Cada um é que sabe de si

Ninguém quer saber de você no duro

Estão muito ocupados com as próprias expectativas

Mande-os ir lá na esquina ver se você está viva

Ninguém vai, ninguém se importa

Quando você fecha a porta do seu quarto, meu bem

Não tem ninguém, ninguém que saiba de fato o que se passa com você, e não adianta falar, telefonar, 

mandar mensagem

O máximo que consegue é – amanhã tudo se resolve, tente relaxar

Vá relaxar a mãe seu filho d’uma égua, se eu quisesse relaxar, procurava um professor de yoga, e não

 um abestado como você, insensível


Para de se preocupar com o que pega mal

O que pega mal é você se sentindo mal

Fazendo o que não quer para não desagradar ninguém

Pensa bem, que sentido tem?

Para não desagradar alguém, o desagradado é você?

Mande tudo à merda...

A merda é um resort cinco estrelas para todos que pentelham você

Tem macias acomodações e um aroma incrível pra essa gente "cheirosa"

Fala

Fala, criatura!

Tá esperando o quê?

A morte da bezerra?

Vou te contar um segredo

A bezerra é você

 

Exploda “queride”

Faça uma loucura

Chifre o chato

Mande sua censura pro bico do sapato

Pra casa do caralho

Vai morrer de fimose?

Solte suas travas e as mande para o cu do mundo

O que você não faz hoje, te deixa nauseabundo

Dê um cano no serviço, perca o juízo

Faça o que for preciso pra se sentir melhor

Quem tem disse que você tem que se preocupar mais com os outros do que com você, mentiu

Cagou pro cê!

Gente muito educadinha morre pela boca

Afogada em tanta sopa de bondade

A boa educação às vezes pode ser uma ofensa a si mesmo

Seja ruim se for preciso pra ser bom consigo

Dê um pé na bunda daquele chato educadamente

Vá cagar no mato, seu insuportável

Mande seu chefe catar coquinhos na Patagônia

Pense em você

Só um pouquinho

Você merece

Mais que essa insônia

Pare, e pense

No meio da foda, da aula, do sim, da estrada

Na frente do padre, do pastor, da sogra, da amada

Pense só uma coisa:

Sua verdade absoluta:

Quem não explode

Implode 

Sem luta

 

Teju Franco 16/11/2024




 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Aquário


Aquário

 

Entre ali

Ali onde não tem ninguém

Ali aonde ninguém vai

Nem os verdadeiros, nem os falsos amigos

Nem Deus com sua tábua de salvação

Ou muro de lamentações

Ali onde não cabe ninguém, além de você

Dispa-se, tire a roupa da vaidade, da culpa, dispa-se

Prepare um Drink

Retire a maquiagem

Aprecie o aquário

Olhando de fora é meio ridículo né...

É bom estar fora, sair um pouco

Daqui de fora tudo parece um sonho

Pessoas vem e vão, nascem e morrem, tudo passa...

A eternidade é um conto de fadas da covardia humana

Somos mais breves que uma brisa

Um sopro em uma imensidão de vazios, multiversos paralelos invisíveis

Permita-se

Fique ali onde tudo é nada

Êxitos, fracassos, tudo nada

Loteria estúpida do carbono 14

Relaxe, não tenha medo

“ Se olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti."( Nietzsche)

Deixe o abismo olhar dentro de ti, discordando do autor, tu não te transformarás no abismo

“Além do bem e do mal” tudo é uma invenção incognoscível

Real mesmo é o tempo da tua carne

O monstro é você que não aceita a própria existência, e não o abismo

Aceite o monstro se quiser dominá-lo para além do medo

Fico com “O ser e o nada” (Sartre)

No Aquário 

das facticidades

São a elas que respondo, que tu respondes

Portanto não leve tão a sério assim o filme do aquário

Para além do abismo, do bem e do mal, da tentativa heroica e mal sucedida da filosofia de teorizar o que não é passível de teoria: a vida

Fico, fique com a poesia

Tente se divertir

Ria, é um circo

Depois, olhe mais uma vez para o aquário

A solidão é só um camarim

Tem outro você dentro do espelho e não um monstro

Sorria para ele e ele sorrirá para você

Retoque a maquiagem

Componha-se

Será sempre você com você mesmo até o ultimo pulsar

Você morrerá como as estrelas

Talvez sua luz ainda perdure por um tempo

Assim como vemos as estrelas que já morreram

Talvez não, mas isso já não terá a menor importância

Termine seu drink

Volte para o aquário

Mesmo que se sinta um peixe fora d'água

Continue nadando

Enquanto puder se divertir



Teju Franco 13/11/2023


domingo, 15 de outubro de 2023

Chacoalho da Bosta



A vida inteira pra curtir: Gal, Caetano, Gil e Bethânia

(Parafraseando Augusto de Campos em seu “Balanço da Bossa”, meu “Chacoalho da Bosta”)

 

A vida inteira pra curtir Gal, Caetano, Gil e Bethânia. Que sorte a nossa! Mais sorte a deles. Que bom deve ser a vida dando certo quando você tem 20 e poucos anos, tudo pela frente, com a energia da juventude pra fazer o que bem quiser e a vida material bem resolvida. Que delícia!

 

Foi assim que esses meninos e muitos outros de sua geração começaram suas vidas de artista. Uma tamanha constelação de talentos, no céu do Brasil, ao mesmo tempo, acontecendo no maior e mais vibrante momento histórico do século 20: os anos 60. Tempo de profundas transformações, turbulências, revoluções comportamentais, políticas, existenciais, em que a juventude era colocada no centro de tudo, ao mesmo tempo que colocava tudo, absolutamente tudo, em xeque.

 

Essa conjugação de talentos tão variados e diferentes, e originais, combinados ao frescor de uma época em que não se confiava em ninguém com mais de trinta anos, colocou a bola da história nos pés da juventude. Isso gerou um frescor criativo no mundo inigualável, criar com o vento da história a favor é uma benção na vida de um artista.

 

E ninguém, no Brasil, aproveitou, usufruiu, gozou, se esbaldou dessa liberdade como esses quatro meninos. Com muita coragem, personalidade, liberdade e principalmente: com o talento nato, extraordinário deles. E o mais incrível de tudo, o tempo passou, a história passou por vários momentos, inclusive antagônicos a esse período, e eles continuaram com o mesmo frescor desafiante, intrigante, criativo, sempre vivendo de desafiar o mercado e assobiar no presente os ventos do futuro, ora contra o vento, ora a favor, os baianos e a ideia tropicalista de certa maneira continuaram pairando sobre tudo. Se a Bossa Nova dividiu a história na maneira de tocar, cantar, arranjar, o tropicalismo dividiu a história na maneira de criar, incorporar, se apropriar, se libertar, se atualizar o tempo todo. O saudosismo na tropicália é feito de um passado que não congela o tempo, querendo-o cativo a uma tradição, ao contrário, leva-o a novos rumos a todo momento, a cada passo da história.

 

Os baianos parecem que vieram predestinados a isso, lembro de Caetano falando da revolução cultural que um tal reitor Edgar Santos promoveu na Universidade Federal da da Bahia, trazendo para ela ícones internacionais do teatro, da música, da dança, da arquitetura e urbanismo. “ Não à toa, a universidade, em seus tempos áureos, interagia com a cidade de forma tão natural.brilhantismo O que se queria afinal? Quem definiu bem foi Glauber Rocha (1939-1981), um tanto mais à frente desse tempo: a questão era “derrotar a província na própria província”. Assim, Edgard Santos reuniu um time de excelência, que poderia contribuir na prática para a tal reinvenção da Bahia, entre eles os seminais Koellreutter  (1915-2005), Martim Gonçalves (1919-1973), Yanka Rudzka (1916-2008) e  Lina Bo Bardi (1914-1992), que tocaram, respectivamente, as escolas de Música, de Teatro e Dança da Ufba, e o Museu de Arte Moderna (MAM-BA).

Outras feras meteram o dedo naquele rico caldo, é claro, e também deixaram sua marca: Ernst Widmer (1927-1990), Carybé (1911-1997), Pierre Verger (1902-1996), Mario Cravo Jr., Milton Santos (1926-2001), Walter da Silveira (1915-1970), Anton Smetak (1913-1984), Clarival do Prado Valladares (1918-1983) e Vivaldo Costa Lima (1925-2010).

Todos preparando terreno para a geração posterior, que transformaria para sempre o cenário vigente, composta por Rubem Valentim (1922-1991), Elsimar Coutinho, Glauber Rocha (1939-1981), Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Wally Salomão (1943-2003), João Ubaldo Ribeiro, Rogério Duarte e Capinan. A intenção era clara: educar culturalmente a população. “ (* Doris Miranda)

 

Acho que Caetano é muito resultado desse caldo, e da visão cosmopolita que o reitor Edgar teve, e que até hoje é traço marcante dos soteropolitanos e da Bahia em geral. Eu sei o que é isso, pois já morei em várias cidades, sob o pretexto de valorizar o que é do bairro ou da cidade, transformam esses lugares em sítios trancados culturalmente. Com argumento de “vamos valorizar quem é daqui”, nada se transforma ou evolui, aí fica lá o mesmo diretor de teatro, desatualizado, acomodado, fazendo a mesma coisa, ano após anos, só para dar um exemplo. Isso é o que mais acontece nos interiores do Brasil, nas secretárias de cultura municipais, até nos botecos musicais em que sempre trabalhei. Sem ventos vindos de fora, a tendência é a estagnação, a preguiça, o acomodamento, e o efeito é o contrário do que se pretende, ao invés de fortalecer a cultura local, o resultado é o enfraquecimento da mesma, em seu próprio provincianismo no que tem de pior.

 

Caetano é uma força criativa oriunda desse “o mundo cabe aqui na minha aldeia”, seu Tejo criativo corre aonde bem quiser na geografia do planeta. Ele e sua turma usufruíram disso e tiveram uma vida próspera artisticamente, emocionante, prazerosa.

 

Sempre que fazia um contraponto dessa geração com a minha, o resultado era uma profunda depressão, pois ao contrário deles, minha geração pegou todos os ventos históricos contra. Hoje não me deprimo mais, pego carona na felicidade deles para continuar criando e ainda me inspiro muito nesse caldo tropicalista, e olha, sempre me dando ao direito de questionar, discordar, romper com esse ou aquele ponto de vista.

Ao contrário do séquito que segue Caetano, em que parece que ficam todos esperando o que ele vai dizer, ou para aonde vai, para depois se posicionar, coisa chata, deve ser muito chato isso, inclusive para o próprio, eu me dou ao direito sempre de dissentir.

Eu sou de outra época, vivi outra realidade, a maior parte da minha geração não conseguiu trazer à luz a sua produção, passei a década de noventa inteira no perrengue, sem trabalho, vendo os bares elencados pela “Bunda Music”, então na dava para eu bater palmas para “É o Tchan”, achava aquilo horrível esteticamente, musicalmente, as roupas, a dança, a ostentação, tudo. Depois viemos a saber que os caras batiam nas dançarinas, entre outras barbaridades e sacanagens comerciais que faziam rotineiramente. Não consigo, diferentemente dos baianos, bater palma para tudo que é popular, só por ser popular e vir de lugares de poucos recursos e bla e bla e bla, enfim, eu vivo com poucos recursos, e pago um preço caro por isso. Também, quem gosta de vaca de presépio é carola de igreja, grandes artistas gostam de ser desafiados, vide João Gilberto reagindo tão bem ao tropicalismo que era muito, muito, muito diferente da estética da Bossa.

 

Sem “choramingação” de leite vencido estamos aqui, sou parte de um grupo de compositores muito ativos e motivados. A tal linha evolutiva segue muito bem-obrigado, e se ela sempre vai além, deve-se muito a esses Doces Bárbaros, a sua alegria, ousadia, coragem, e liberdade criativa. Diferente deles, não tivemos a vida inteira pra curtir, mas tudo ficou mais divertido, no sentido criativo, depois deles, a boa sensação de que tudo é possível. Sigamos, e se o “Balanço da Bossa” não vira mais, a gente chacoalha nossa bosta do jeito que dá.

E viva Macalé, vi um show dele há poucos anos e está tudo ali, vivo e atuante, o mesmo frescor dos anos sessenta, em toda a sua liberdade criativa que não se congela no tempo, ao contrário, o desafia a todo momento.

 

Chacoalho da Bosta – Teju Franco 15/10/2023